quinta-feira, 21 de maio de 2015

Roleta Carioca

Nova Logomarca do Rio de Janeiro
Devido a uma postura positiva, (irresponsável?) a violência absurda vivenciada no Rio não me impediu de flanar de bicicleta por aí, a magrela se transformou em meio de transporte e de lazer.

 Eu e ela curtimos juntos os cenários maravilhosos existentes no Rio, nos perdemos pelo centro histórico - Lapa, Estácio, Gamboa, Saúde, Paço Imperial, Praça Mauá-  fizemos passeios pelo passado imperial, verdejamos pelo Horto Florestal, Jardim Botânico e Parque do Flamengo, tomamos chope na mureta da Urca descortinando a Baia de Guanabara, Corcovado e Pão de Açúcar, fomos as Feiras da Praça XV e Lavradio, mergulhamos no Arpoador, com direito a por do sol, e passeamos na orla de Copacabana, Ipanema, Leblon e São Conrado, sem esquecer a Lagoa, com direito a pit stop para beber água de coco ou para curtir alguma performance musical que rolava no momento.

Mas acho que isto agora é passado, vou ser obrigado a me separar dela. Na semana passada ao fazer o trajeto da Lagoa a Copacabana, onde moro - já era noite- me senti inseguro, na verdade a palavra correta é medo, em pedalar, coisa que nunca tinha ocorrido. Neste dia evitei andar pela ciclovia, preferi transitar no asfalto no meio dos veículos, ali o perigo eram os carros e caminhões, que, em tese, podia controlar melhor que na ciclovia, onde a ameaça são pivetes violentos, drogados e armados com facas, neste caso não haveria nada a fazer se fosse atacado por eles, como mostram os diversos casos ocorridos recentemente, muitos deles no Parque do Flamengo e na ciclovia da Lagoa, dois cartões postais da cidade, que alguns acreditam que ainda é maravilhosa.

A gota d’água que potencializou a minha insegurança foi o roubo da bicicleta e assassinato praticado contra o médico cardiologista Jaime Gold de 56 anos, que ocorreu na terça feira, 19/5- na ciclovia da Lagoa. Ele foi esfaqueado diversas vezes, mesmo não tendo esboçado reação, tendo o crime ocorrido às 19.00h, horário teoricamente considerado seguro, sendo que dez dias antes dois ciclistas foram esfaqueados naquela região.

De repente, me vi na pele de Jaime Gold, ele era da minha geração, morava próximo e, como eu, gostava de andar de bicicleta. As facadas desferidas contra ele me feriram também, sangramos juntos, ao contrário dele não morri, mas a vida murchou um pouco, fiquei triste com a minha cidade e mais cético com aqueles que têm a responsabilidade de transformá-la, todos nós. 

No passado quem quisesse desafiar a morte fazia roleta russa, ela consistia em girar o tambor do revólver e disparar contra a cabeça, mas só fazia isto quem tivesse a fim. Hoje, temos a roleta carioca, que é compulsória, quer queira ou não, você irá fazê-la, para tanto basta sair de casa a pé, de bicicleta, pegar uma condução ou mesmo dentro do seu carro.  Ela é praticada na ciclovia da Lagoa, no Parque do Flamengo ou qualquer outro espaço do Rio, ninguém escapa dela.

Muitos poderão sustentar que o Brasil é violento devido à má distribuição de renda e a pobreza, o que não ocorre nos países ricos com boa distribuição de renda, o que é correto, mas é uma verdade parcial, pois como se explica que países bem mais pobres que o Brasil e que, igualmente, apresentam má distribuição de renda apresentem baixos índices de violência e homicídio? Acredito que a principal causa da violência extrema é o binômio corrupção e impunidade, prática que acompanha os brasileiros desde os tempos das capitanias hereditárias.

Paralelamente, a sociedade clama por mais policiamento, mas acho que isto, isoladamente, não resolve, uma das razões é que se teria que colocar de forma ostensiva policiais em todos os bairros e na maioria das ruas da cidade, para isto seria necessário, à grosso modo, multiplicar o efetivo por três. Se considerarmos toda a região metropolitana, por seis, e para todo o estado, o incremento seria dez vezes. Não há orçamento, nem lógica que embase a medida, sem contar que quanto mais dinheiro se colocar na segurança, menos recursos sobram para a educação e saúde.

Não sei se estou sendo muito muito negativo, mas a violência no Rio se banalizou, ela passa por um processo de metástase intensiva há mais de quarenta anos. Soma-se a isto uma policia mal preparada, parte dela corrupta, uma justiça lenta e ineficaz, governantes pouco comprometidos em reduzir as disparidades sociais e os péssimos exemplos em termos de ética e honestidade que vem dos escalões governamentais superiores e o resultado disto tudo somado é trágico, nos remetendo a conclusão que a única alternativa que sobra é o Gate do aeroporto internacional mais próximo.
                                                              
   MAGRELA
Bye, Bye Bike, Bye, Bye Brasil. Magrela, See You in Amsterdam



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