segunda-feira, 31 de agosto de 2015

O Traidor de Madureira

Delação ou Traição Premiada?
- Seu filho da puta, não tem vergonha de me trair? Doze anos casados e você está trepando com aquela piranhazinha do 502 que vive com o zagueiro de futebol do América. Para ele, levar bola nas costas deve ser normal, mas para mim não, falou enraivecida.

- Não sei do que você está falando.

- Não sabe é? Então vou refrescar a tua memória. No começo desta semana, mais precisamente na segunda feira, a minha amiga do 804 viu você entrando com a vizinha no Motel Êxtase Tropical na Avenida Edgard Romero, em Madureira. Aí resolvi investigar, fui ao motel e mediante pagamento de pequeno pixuleco dado a um empregado, não vou entregar quem é, mostrei a tua foto e descobri que vocês vão lá há pelo menos quatro meses.

- Pera aí. Calma, eu posso explicar. Eu estou dando consultoria na área tributária para o motel, eles estão enrolados com a Receita Federal, e foram autuados pelas Secretarias de Fazenda estadual e municipal. Por acaso descobri que a vizinha estuda contabilidade, e como o serviço lá é grande, o rolo deles é enorme, perguntei se ela podia me ajudar como estagiária fazendo o trabalho chato, que é auditar os livros dos últimos cinco anos, duas vezes por semana temos que verificar in loco a contabilidade. Eu só esqueci de te falar que tinha contratado ela, se tivesse feito isto estaria tudo tranquilo. Entendeu agora? Explicado?

- Entendi. Entendi que você é um grande filho da puta mentiroso. O funcionário me falou que quando vai lá, rola pelo menos duas garrafas de vinho e os gemidos e berros da piranha tem uma sonoridade tão alta que é ouvida por todos, o que levou os moradores dos prédios vizinhos a fazer um abaixo assinado contra a permanência do motel no local, estão até pensando em entrar na justiça com base na lei de poluição sonora, por isso o motel pensa em proibir entrada de vocês.  Só falta dizer agora que o tamanho da sonegação que ela descobre é tão elevado, que, revoltada, começa a berrar pensando no impacto social que a queda da arrecadação tributária acarreta para à população carente.

- Ok, não há como esconder, você está certa, mas quero observar que existe um atenuante. Neste caso é obvio que a traição é dos dois, mas a dela é muito pior, é uma traição premeditada, sai de casa com vontade de trair e escolhe um alvo, e, desta vez, a vítima fui eu. Pode-se dizer que ela é patologicamente uma serial traitress, termo que significa traidora, sua traição é dolosa, quando há intenção de se cometer o ato, já a minha culposa, não tem este objetivo, acontece por acaso. Eu não saio de casa com esta intenção, por isso deveria atenuar, ou até mesmo relevar o que aconteceu.

- Ah, é? Conta outra seu viado.

- É normal que não acredite no que falei, eu mesmo não daria crédito a isto. Mas vou te dar uma prova definitiva: sempre que encontrava com a vizinha no elevador, saímos no mesmo horário, ela estava com roupas provocantes, decote acentuado, micro saia, perfume matador e eu ficava na minha, nem aí. Uma vez encostou seu lábios carnudos próximo do meu rosto e sussurrou no meu ouvido perguntando para onde ia, falei que estava indo para o meu escritório em Madureira, aí indagou se poderia dar carona, pois, coincidentemente, a Faculdade de Contabilidade que estuda fica lá. Não vi nada demais nisso, pois devemos praticar a política da boa vizinhança, afinal para se chegar lá tem que se pegar duas conduções, de ônibus se gasta  uma hora e meia para se fazer o trajeto. 

-Isto durou três meses, até que um dia, foi em janeiro, fazia um calor escaldante, o ar condicionado do carro tinha pifado, ela sugeriu procurarmos abrigo num lugar mais fresco. Inicialmente pensei que estava falando das sombras das árvores do Parque de Madureira, achei aquilo meio surreal, mas quando estava passando em frente ao motel pediu para parar o carro e sugeriu irmos nos refrescar no ar condicionado e na piscina do motel. De início repeli veementemente a proposta, falei que era um homem casado, que te amava, não admitia isto, que isto ia contra os meus valores éticos e religiosos, mas aí ela começou aplicar, golpes baixos abaixo da linha de cintura, o que me nocauteou. Fiquei grogue, perdi a noção do que estava acontecendo, só fui recobrar a razão quando acordei completamente nu na cama do motel duas horas depois do nocaute.

Não sei bem o que aconteceu neste intervalo, mas tinha noção que a vaca tinha ido pro brejo, por isso, diante do fato consumado, continuei a manter relação até esta semana. Para provar que isto é perfeitamente possível de acontecer, lembro o que ocorreu com o jogador Ronaldo Fenômeno, no caso dele quando recobrou os sentidos notou que estava nu e tinham dois travestis na cama, ele não fazia a mínima ideia como  eles foram parar lá e o que tinha acontecido.  

- Seu puto!

- Pode falar o que quiser não te culpo, mas tecnicamente não te trai, fui envolvido numa teia, sou vítima também e estou indignado com o que ela fez comigo, ou melhor, com a gente. Você tem razão, estava cego, agora vejo que ela é uma piranha.  Com te falei, a minha traição foi culposa, não houve intenção de trair, por isso, deve considerar o que aconteceu como uma triste fatalidade, assim como, como....a eleição do Eduardo Cunha para a presidência da Câmara. Não era para acontecer, mas ocorreu.

- Ainda assim tem culpa no cartório, eu posso aliviar um pouco a tua participação na traição, mas não irei te perdoar de forma irrestrita, isto não.

- Para obter o teu perdão definitivo, não quero te perder, proponho fazer delação premiada.

- Delação premiada?

- Sim, eu conto para você alguns pecadilhos que cometi desde que nos casamos, que você não sabe, em troca obtenho o teu perdão definitivo. Topa?

Cheia de curiosidades sobre os segredos que ele tinha guardado nestes anos, falou que sim.

- Começo pela nossa lua de mel, houve um caso involuntário e rápido com uma camareira boazuda que arrumava o nosso quarto. Estávamos na piscina, eu tinha esquecido o celular no apartamento, subi para pegá-lo e encontrei a moça da arrumação dando uma geral no quarto vestindo um uniforme justo que realçava suas formas, meio versão macho man feminina. Não sei como, nem por que, rolou um sexo maravilhoso, mas, juro, foi só aquela vez. Se arrependimento matasse, tenho certeza que teria morrido na lua de mel.

- Depois, na festa de cinco anos do nosso filho, aconteceu, meio por acaso, uma trepada com a mãe da Claudinha, amiguinha do nosso filho. Mas, juro, foi ela quem provocou, propôs irmos para o terraço para ver o por de sol na Lagoa, eu acreditei nisto, quando chegamos lá em cima me ameaçou e abusou de mim duas vezes, na verdade três se considerarmos a felação.

- Teve ainda a professora da academia, que contratei como personal trainer, um dia estávamos correndo no Parque do Flamengo e paramos para tomar uma água de coco no final do aterro, perto do Aeroporto. Quando menos esperava ela me agarrou e deu o bote e me empurrou para dentro de um que estava ali flutuando na água. Tentei sair, usei toda a minha energia, rezei pedindo a Ele para me ajudar, mas como ela é muito sarada e forte, me imobilizou com uma chave de coxa, eu fiquei indefeso, aí aproveitou para abusar de mim quatro vezes.

- Seis meses depois, em julho de 2010, para comemorar cinco anos de casados fizemos um cruzeiro para Patagônia na companhia da tua prima Maria Rita e o marido dela, que não estavam bem, lembra, aí aconteceu que....

- Cala a boca, não quero ouvir mais nada.

- Então, estou absolvido da traição involuntária com a estudante do nosso prédio? Tenho o teu perdão? Afinal me auto delatei, ninguém faz isto, e o combinado era que iria me perdoar de forma irrestrita se eu confessasse tudo, foi o que fiz.

- Vai pra puta que pariu, amanhã vou dar entrada no pedido de divórcio.

Abaixo a dose de rock do texto: 
Rock Around the Clock  - Bill Haley and His Comets
https://www.youtube.com/watch?v=ZgdufzXvjqw



quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Verdades Secretas (e incômodas)

Somos Todos Barusco?
Existem diversas formas para se definir o que é um cara chato, inclusive esta, de minha lavra: é o sujeito que num churrasco de confraternização entre amigos, passa o tempo todo dizendo que a carne vermelha faz mal a saúde, o sal grosso aumenta a pressão, o álcool é um veneno para o fígado, além de citar todas as substancias químicas presentes na composição dos refrigerantes. Para arrematar diz que o gás metano desprendido pelo gado contribui para o aquecimento do planeta.

Dito isto, informo que o chato da vez sou eu. No meio da bonita e emocionante manifestação de cidadania ocorrida no dia 16 de agosto, que teve como alvo central protestar contra a corrupção desenfreada que tomou conta do país, fiquei imaginando quantos ali presentes gritando slogans contra o governo, destilando sua indignação contra algumas figurinhas carimbadas da corrupção nacional e vocalizando palavras de ordem de apoio às ações do Juiz Sérgio Moro, teriam igualmente se corrompido, provado o gosto de um pixuleco, se a oportunidade tivesse passado em frente a sua porta.

Tomemos como exemplo o caso de Pedro Barusco ex-executivo da Petrobras e atual delator premiado. Ele se formou em engenharia ingressou na Petrobras por concurso, galgou diversos postos até chegar a Superintendência de Engenharia, cargo que só se ocupa por mérito e competência. Mas vamos imaginar o que teria acontecido se ao invés de fazer engenharia tivesse escolhido a medicina e aberto um consultório de pediatria. Evidentemente é difícil responder, mas uma das possibilidades sugere que poderia estar participado das passeatas contra a roubalheira no país, pois, possivelmente, a corrupção contraria todas as regras de cidadania que aprendeu ao longo da vida. 

No rol dos acusados dos diversos casos corrupção, e não estamos nos referindo apenas a aqueles que ganharam mais destaques na mídia- o mensalão e o petrolão- e sim todos que foram descobertos nas empresas estatais, fundos de pensão, assembleias legislativas, câmara dos vereadores, poder judiciário, prefeituras e governos dos estados e federal, são milhares de casos que vieram à tona nos últimos anos, grande parte dos envolvidos eram pessoas com boa formação intelectual, oriundas de famílias bem estruturadas que lhes transmitiram exemplos edificantes em relação a valores éticos, justiça e honestidade.

A variedade do perfil profissional e funcional dos condenados ou acusados de corrupção comprova o ditado que no Brasil a ocasião faz o ladrão. Dentre os envolvidos temos ex-guerrilheiros, metalúrgicos, sindicalistas, representantes comerciais, arquitetos, secretarias, engenheiros, economistas, advogados, juízes, ministros, veterinários, ambientalistas, empresários, cientistas, políticos, médicos, comunistas, militares, religiosos, ateus, crentes, ex-líderes estudantis, síndicos de prédio, gerentes da área de compras de estatais e empresas privadas, dirigentes do MST, etc...enfim, o arco da corrupção contempla todo extrato social da atividade nacional. 

Pode-se dizer que em qualquer país o grupo de corruptos abrange os diversos segmentos da sua elite intelectual e política. Ok, verdade, só que o Brasil ocupa a 69º lugar no ranking mundial da corrupção. Trocando em miúdos, enquanto o índice do país menos corrupto, a Dinamarca, é 92, o coeficiente do Brasil é 43, ou seja, a corrupção aqui não só é culturalmente tolerada, como também praticada em doses maciças pela sociedade, e não apenas por aqueles que aparecem nos noticiários, que é a ponta do iceberg. No Japão um corrupto mequetrefe para os padrões brasileiros, renuncia, saí da vida política ou, em casos extremos, se suicida, aqui ele vira presidente - república, clube, câmara, senado, assembleia legislativa, escola de samba ou algo no gênero.  

A cultura da corrupção é diariamente comprovada através de um procedimento comum praticado por considerável parcela da população, a pessoa para não ser multada no trânsito ou para o seu estabelecimento não levar um auto de infração, apela para o famoso jeitinho (aí seu guarda/fiscal não dá para dar um jeitinho). 

O pixuleco do petrolão, considerado o “jeitinho alfa”, só causou espanto e indignação devido a sua grandiosidade, mas, num país que absolve quem rouba mas faz, vide Barbalho, Collor, Renan, Maluf, que sempre se reelegem, a corrupção é vista  como algo que faz parte da rotina do brasileiro como o torresmo, chopp e futebol no dia de domingo e o carnaval. Tradicionalmente, protesto contra corrupção não leva mais que meia dúzia de gatos pingados para as ruas. 

Pode ser que a hipótese de que parte dos brasileiros é honesta por falta de oportunidades seja radical, mas, infelizmente, os fatos que diariamente ocorrem em todo o país sinalizam nesta direção, dando outro sentido a letra da música "aí se eu te pego, delícia, delícia", cantada por alguns enquanto sonham acordado com pixulecos. 

Mas nem tudo está perdido, como mostra o estudante Lucas Yuri Bezerra, de 16 anos de Brasília, que achou no lixo uma carteira com R$ 1,6 mil. Embora sua mãe esteja desempregada e sem recursos, não pensou duas vezes, decidiu devolver o dinheiro ao seu dono, que, veio se saber, era um pedreiro aposentado que sofre de problemas no joelho e anda com dificuldades.  Detalhe, o adolescente foi tachado de otário por seus amigos de turma que diziam para ele ficar com o dinheiro. Enquanto tiver no Brasil pessoas como Lucas, existe esperança.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Carta Escrita Por Franklin Martins Endereçada para Ele


Estou em 1989, escrevo esta carta para mim mesmo,  não sei quando irei recebê-la, só espero que chegue as minhas mãos em tempo hábil.  Seu texto é um alerta para que não se repita no futuro as práticas políticas vigentes no Brasil de Sarney, Maluf, Barbalho, Quércia e outros do mesmo time, que se pauta no trinômio populismo, corrupção e nepotismo. 
É duro presenciar isto, logo eu que fui para a clandestinidade lutar contra a ditadura militar com a intenção de derrubá-la e colocar no seu lugar uma outra, a comunista, que é tão fascista como a da direita, mas, com uma diferença, é do povo, é libertadora (desde que a pessoa não vá presa ou não seja sumariamente fuzilada). Por idealismo de um Brasil melhor sequestrei embaixador, roubei bancos, fiz assalto a carro pagador com o objetivo de obter dinheiro para financiar a luta armada contra a ditadura militar, fui preso, depois o exílio, voltei e ajudei a restabelecer a democracia no Brasil, entrei para o PT.
Como estava dizendo, o nível da política chegou ao fundo do poço, nunca na história deste país se viu tanta roubalheira e é por isso envio esta carta para mim no futuro, para que sirva de alerta e me estimule a continuar lutando para que tais práticas nunca mais aconteçam no país. 
 Nesta carta tentarei resumir o quadro político atual, extraído  de um artigo que  escrevi para o Jornal do Brasil neste ano, 1989:

1-     A compra de votos, abuso do poder econômico e a utilização da máquina pública são moedas correntes na disputa eleitoral e, o que é pior, ninguém tem problema com a justiça;

2-     Para a maioria o importante é vencer as eleições, custe o que custar, se for necessário insulte-se o adversário, minta-se para os eleitores, se o preço da vitória for enganar o cidadão comum, paga-se, afinal trouxa existe para isso;

3-     Fiquei horrorizado quando Paulo Maluf disse que nas eleições vale tudo, só não vale perder;

4-     Os deputados e senadores, que gastaram milhões de dólares para se elegerem passeiam nos corredores do Congresso, são chamados de vossas excelências e gozam de imunidade parlamentar, foram bem sucedidos, afinal jogaram com a regra do jogo;

5-     Olha o tamanho do absurdo: em 1988 teve uma tremenda cheia no Acre,  morreram muitas pessoas e milhares ficaram desabrigadas. Sabe o que fez o governador Flaviano de Mello do PMDB? Segurou a distribuição dos alimentos doados por organizações humanitárias, o que só foi feita meses depois através de correligionários, na véspera da eleição de outubro, é aquele negócio os amigos do governador precisam se eleger e nada melhor do que trocar de leite em pó por votos;

6-     Este tipo de estelionato faz o eleitor achar que eleição não serve para nada;

7-     Os espertalhões só podem ser afastados da política por aqueles que já perceberam sua trapaça, inclusive os que caíram no conto do vigário uma vez e aprenderam com a experiência. Mal ou bem o povo tem a chance, no voto, de mudar a vida política do país.

8-     Para finalizar: quatro dias após eleger 22 governadores e a maioria no Congresso, o presidente José Sarney mandou o congelamento de preços às favas, os votos estavam dados e os otários já haviam cumprido o seu papel.

Você deve estar chocado com o relato, acredito que nunca viu nada parecido, mas, tenho certeza que quando o PT chegar ao poder certamente isto vai mudar, nossa gestão irá se pautar na ética, honestidade e competência, as indicações políticas e nepotismo não mais existirão, a burguesia, os empreiteiros corruptos, os banqueiros e o capital estrangeiro espoliador serão varridos do mapa.

A luta continua camarada, contamos com você aí no futuro.

Ass. Franklin Martins - Julho de1989

Resposta:

Caro Franklin ou Caro Eu no Passado

Informo que a sua carta tinha que ter chegado até 2002, mas, infelizmente, só me foi entregue em julho de 2015, culpa dos Correios que está totalmente aparelhado pelos companheiros. Sabe o que significa este atraso? Usando o idioma francês que aprendi quando estávamos exilados na França - la vache est allé au marais ou a vaca foi para o brejo, à carta chegou tarde demais.

Você vai ficar decepcionado, mas tudo que relatou continua acontecendo, só que numa escala tsunâmica. A única coisa que mudou para melhor foi o que escreveu no item 1 da carta: hoje as pessoas tem problemas com a justiça  por conta de estelionato eleitoral e corrupção.

Agora percebo que quando os companheiros criticavam as práticas políticas fisiológicas e corruptas dos partidos burgueses conservadores de direita, estavam, também, aprendendo como fazer para se perpetuar no poder, como usar a máquina administrativa em prol do no$$o projeto político, que incluía enganar os otários distribuindo vários tipos de bolsas capilé em troca de votos, quer dizer, o objetivo primeiro podia não ser este, mas o resultado, sim.

Éramos críticos ferozes e, ao mesmo tempo, alunos aplicados de tudo que tá aí, ou estava lá, passamos com louvor nas matérias ligadas a superfaturamento, esquemas off shore de remessa de grana, a utilização do patrimonialismo, nepotismo e desvio de recursos como instrumentos para se perpetuar no poder e botar algum no bolso, ato que quando praticado pela esquerda que deve ser considerado ideológico, libertador, feito em nome dos trabalhadores, afinal não é este o nome do nosso Partido, não são eles que nomeamos nas estatais e nos fundos de pensão?

Não posso escrever mais, pois tenho que ir agora para Curitiba para visitar o Zé Dirceu, nosso companheiro que também foi para a luta armada para mudar o Brasil, ele anda meio deprimido, sofre do Mal de Moro. De certa forma conseguimos mudar o país, só que para pior.

Rasgue e queime tudo que escrevi sobre ética e honestidade na política. A luta continua.

Abraço
Franklin Martins - Agosto de 2015 

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

ALGORITMOS

Algoritmos: bola de cristal do século XXI
-Daqui a dez minutos você vai a padaria comprar pão.

- O quê?

- Estou te falando que daqui a dez minutos você vai à padaria.

- Tá de sacanagem, né? Você sabe que daqui a pouco começa o jogo do  mengão e eu já estou concentrado para ver a partida pela televisão. Meeeeengo!

- Ok.

- João Carlos pode dar um pulinho na padaria agora e comprar pão e presunto, gritou do quarto a sua mulher.

- (olhar arregalado de espanto) Como é que você adivinhou? É espírita, vidente, sensitivo?

- Não, sou ateu e não acredito em vidência.

- Sim, mas como adivinhou, então?

- Trabalho com tecnologia.

- E o que tem isto haver com a premonição que teve?

- Minha especialidade são algoritmos.

- Que porra é esta?

- Bem, algoritmo é um processo de cálculo ou de resolução de um grupo de problemas semelhantes, em que se estipulam, com generalidade e sem restrições, regras formais para a obtenção de resultado ou de solução de problema.

- Não entendi nada, fala em português claro, o que é isso?

- No popular é o seguinte, é o estudo do comportamento de eventos, baseado na sua frequência e constância pode-se prever o que irá acontecer.

- Quer dizer que isto é uma espécie de bola de cristal high tech?

- De certa forma, sim.

- E como você sabia que eu iria à padaria?

- Sem você saber estou há seis meses observando o comportamento da tua família.    

- Somos tua cobaia?

- Se quiser usar este termo, sim, mas a finalidade é nobre, puramente tecnológica. 

- E como obteve as informações?

- Expliquei para os teus filhos, a Claudia e o Felipe, o objetivo da pesquisa e eles concordaram em participar do projeto como estagiários. A única coisa que tinham que fazer era me passar todas as informações sobre a rotina da casa. Ah, ia esquecendo, também hackeei a internet da tua casa, mas, não se preocupe, os dados são sigilosos, afinal o Google e Facebook fazem isto também.

- Porra, quer dizer que a minha casa se transformou num Big Brother científico sem eu saber?

- Sim.

- Algo mais?

- A Ritinha, namorada do Felipe, vai terminar o namoro.

- Impossível, eles são apaixonados namoram há quatro anos, vivem falando em se casar assim que terminarem a faculdade.

- Verdade, mas ela vai descobrir daqui a dois meses que ele é gay.

- Gay, meu filho, você ficou louco?

- Não, são os algoritmos que dizem isto. Mas ele ainda não sabe que é gay, só vai se tocar daqui a oito meses e em onze meses vai assumir a nova sexualidade e sair do armário.

- E a Claudia, perguntou tenso.

- Não se preocupe, ela é fêmea assumida, só que....

- Só que, o quê?

- Vai abandonar a Faculdade de Matemática para ser dançarina de um grupo  funk da baixada. 

- Algoritmos?

- Sim.

- Tem outra informação a respeito da minha família?

- Tenho

- O quê?

- Em um mês mais ou menos a tua mulher deverá pedir divórcio devido as constantes brigas e ao teu comportamento mulherengo. Nos últimos cinco meses você saiu com três mulheres diferentes e foi a quatro motéis, o GPS dos teu telefone celular e do das mulheres mostram isto. A propósito, segundo ao algoritmos a tua cara metade tem um amante.

- Tá de sacanagem.

- Não quem tá é ela, estou falando sério.

- Acabou?

-Não, daqui a três meses terá complicações cardíacas.

- Impossível, fiz check up há um mês e estava tudo legal. O próximo exame está marcado para daqui a seis meses.

- Antecipe os exames, o algoritmo indica que em quatro meses terá um ataque cardíaco e poderá morrer.

-!!!!!

- Bem, tenho que ir devido a um compromisso, infelizmente não vou poder ficar para o segundo tempo, mas foi bom te ver com saúde. A propósito, o Flamengo vai perder, falou enquanto fechava a porta. 

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Guia Profissional Para Delatores Premiados

Guia de atividades honestas para quem
não tem expertise no assunto
Um amigo meu que atua na área de orientação profissional elaborou um Guia voltado para atender corruptos que foram obrigados pela justiça a deixar o mundo nababesco e mágico do caixa 2 para viver a realidade honesta, mas medíocre, da vida caixa 1. Segundo os terapeutas, não é fácil se adaptar  a esta nova condição, muitos ficarão perdidos, a maioria irá entrar em depressão profunda, pois não têm a mínima ideia como alguém consegue viver sem pixulecos e, pior, não sabem o que fazer na vida para ganhar dinheiro de forma honesta,  falta de hábito é fogo.

Compadecido com o drama, este amigo elaborou um guia de orientação profissional e de oportunidades de investimentos direcionado para delatores, onde constam algumas algumas alternativas de trabalho, expostas a seguir:

1-   Abrir Uma Empresa de Consultoria
Você ganhou dezenas de milhões de dólares prestando consultoria e o fato de ter sido preso e abandonado pelas empresas e governo não quer dizer nada. Fale mil vezes “sou um consultor competente”, não esqueça que sozinho, sem equipe,  só com ajuda da esposa,  filhos e irmão, elaborou estudos de projetos orçados em centenas de milhões de dólares. Vá em frente, abra uma empresa de consultoria. Irá disputar o mercado com milhares de outras, mas você é bom, se garante, as outras que se cuidem. Comece focando na área agrícola, em particular, no setor cítrico, afinal você entende de laranjas. Outra segmento seria petróleo e gás na área de tubulações, expertise inerente para quem entrou pelo cano.  

2-     Fazer Palestras Motivacionais 
 Na linha “Eu era poderoso, adquiri  tudo que o dinheiro podia comprar, fui preso, perdi tudo, vendi minha honra e alma para o diabo, fiquei pobre, careca, gordo, depressivo, minha mulher e amante me abandonaram, meus filhos são ridicularizados na escola, tomo dois revotril por dia, mas sou feliz”. Se depois disso conseguir falar algo, vai ganhar muito dinheiro.

3-     Criar Uma ONG de Autoajuda 
Chamada Vigilantes da Honestidade destinada a fazer com que corruptos deixem de roubar ou, pelo menos, surrupiem menos. Seus integrantes se reuniriam uma vez por semana e diriam quantos dias ficaram sem pensar em roubar, seriam parabenizado e  incentivado pelos demais.

4-     Representante Comercial de Correntes Eletrônicas Para Presidiários
 Parece que a moda de delação premiada é irreversível, veio para ficar, acredita-se que irá aumentar exponencialmente depois que as investigações adentrarem pelas área de energia, fundos de pensão, transportes, etc... o que sinaliza que o mercado de corrente eletrônicas ficará aquecido, hojeo produto já está em falta. Você é a pessoa indicada para servir de modelo, fazer a demonstração e falar, com conhecimento de causa,  sobre as excelências do produto.

5-     Trabalhar Como Prisioneiro Domiciliar Substituto
Muitos daqueles que irão ficar em prisão domiciliar irão pagar alto valor para quem se dispuser a ficar na sua casa com a coleira eletrônica na perna. O código digital da corrente original seria clonado e colocado em outra coleira fixada na perna do terceirizado - você- enquanto o titular vai passear pelo Brasil. O grande problema é que o substituto terá que aturar a mulher, os filhos e a sogra que moram com o infeliz delator que, por isso mesmo, pensa em solicitar a volta para o regime fechado.

6-     Dirigir Táxi
Irá encarar engarrafamentos colossais, possibilidade de assalto, concorrência do Uber, transportar bêbados que fogem da lei seca, mas dá para ganhar uns R$7 mil por mês, que equivale a 0,000001% de um pixuleco, mas é honesto.

7-     Abrir uma Franquia
Atividade em franco crescimento no Brasil, só deve evitar abrir  franquia de pizza  para não provocar comentários maledicentes ou parecer gozação;

8-     Restaurante a Quilo
A Vigilância Sanitária, Fiscalização de ICMS, Procon, Pesos Medidas e teus empregados estarão doidos para te ferrar, e irão conseguir isto, sem contar que a concorrência é predatória, mas o negócio é bom.

9-     Líder Espiritual 
Adotará um nome indiano ou tibetano precedido pela palavra Mestre e irá atuar na linha Osho com pegada Rinpoche. O único pré requisito da atividade é dizer frases que ninguém compreende, mas, por isso mesmo, acham que está impregnada com profunda sabedoria. Depois é só deixar a auto-sugestão trabalhar e fazer sua parte. Pague para uma it girl postar no twitter comentários elogiosos e dizer que artistas da globo estão frequentando o espaço. Se der certo será convidado para tomar café da manhã  no programa da Ana Maria Braga e participar do Sem Censura da Leda Nagle. Depois disso o número de seguidores no Face e twitter irá crescer exponencialmente, seu vídeo terá milhões de views. Suma por seis meses para criar uma aura de mistério.

10-  Filial de Igreja Evangélica
Variante da alternativa anterior. Irá ganhar dízimos, tirar os custos, repassar 80% do valor líquido para a matriz e ficará com 20%. Para começar está ótimo, se for bom poderá, à médio prazo, fundar sua própria igreja, com o nome de - sugestão- Igreja Placebo da Graça do Décimo Oitavo Dia. Ao contrário dos restaurantes à quilo, não tem fiscalização e o investimento se paga em seis meses.

11- Conciliar a Atividade Budista com a Evangélica
Como o mercado demanda produtos distintos, poderá atuar segunda quarta e sexta como monge budista e as terças, quinta e sábado como pastor. No domingo, dia de descanso, poderá extravasar seu lado ateu e materialista, a sua verdadeira praia. 

12- Abrir uma Galeria de Arte 
Uma boa alternativa profissional para um delator premiado é exercer a atividade que foi obrigado a se graduar por conta da elevada grana caixa 2  que recebia. Devido a isto, começou a se familiarizar com o mundo da arte, descobriu, por exemplo, que Varejão não era um grande varejo do Mercadão de Madureira e sim o sobrenome de uma das mais conceituadas e valorizada pintora do Brasil, a Adriana, que aqueles quadros cheio de bandeirinha que ele achava que o seu neto faria igual, era bastante valorizado, pois tinha a assinatura de um cara bastante conceituado chamado Volpi. Devido a isso, tem grande chance de se dar bem trabalhando como marchand, podendo, quem sabe, orientar os futuros corruptos quanto as melhores oportunidades de  investimento no mercado das artes.


segunda-feira, 10 de agosto de 2015

FAROESTE CABOCLO

O faroeste político brasileiro supera em
 emoção e armações a história do filme
A atual cena política brasileira - um contra todos e todos contra um - pode ser comparada a estória do western spaghetti “O Bom, o Mau e o Feio” de 1966 dirigida por Sérgio Leone, estrelado por Clint Weastwood, que teve a magistral trilha sonora composta por Ennio Morriconi. 

O filme conta a história de três pistoleiros inimigos que são obrigados a se unir para encontrar um tesouro roubado, cada um tem uma informação que unidas pode indicar o local onde ele está escondido, assim, no decorrer do história, dependendo da conveniência, podem ser aliados ou inimigos. Depois que acham o tesouro à realidade vem à tona, lutam entre si para ver quem irá ficar com todo o dinheiro. A cena final é antológica,  um duelo realizado num cemitério no meio do deserto, um apontando a arma para o outro. 

Na  atual realidade política tupiniquim, em que o aliado da manhã é adversário à tarde, se atira para todos os lados e não existe bala perdida, todas tem endereço certo, não seria fora de propósito imaginar que poderia acontecer o mesmo final do western, um duelo, não no deserto, e sim no planalto central (quase igual), o cemitério seria substituído por um local onde todos são muito vivos, o Congresso Nacional, e não teria três protagonistas, e sim quatro,  Dilma, Cunha, Renan e Janot. Será que o mocinho vence a parada? Façam suas apostas.

Para trilha sonora da versão brasileira  sugere-se a marchinha de carnaval “Me dá um dinheiro aí”. A produção do documentário, não é ficção, contará com o apoio da Odebrecht, UTC, Camargo Correa, Engevix e Andrade Gutierrez, via Lei Rouanet e Pixulecos. 

Brinde do Blog:
Trilha sonora- The good, the bad and he ugly   http://mais.uol.com.br/view/6787452