. Onde foram parar meus amigos? |
Alguns
já devem saber que fui obrigado a sair do Facebook devido a um problema de
vírus que, segundo apurei, é mais letal que a hepatite C e o ebola. Juntos. Estudos
recentes feitos com pessoas que foram obrigadas a sair do site indicam que elas
passaram a ter tremedeiras, síndrome do pânico e depressão profunda, fruto da
abstinência facebuquiana.
Estou
apreensivo, temo que não tenha suficiente estrutura psicológica para superar
este baque. Ouvi dizer que quem abandona a página vira alma penada, fica
isolado, perde a identidade e deixa de compartilhar com a sua antiga rede de
relacionamento, conhecida como amigos, coisas importantes que todos querem saber, como o
que comeu no restaurante, a sua imagem na Disney com o chapéu do pateta, mostrar
que é uma pessoa feliz, mesmo engarrafado indo para o trabalho irá
mandar uma foto rindo com um comentário tipo “Genteeee olha eu de novo
engarrafado e não é na bebida kkkkk,” receberá de volta comentários originais
tipo kkkkk-, é uma pessoa de bem com a vida, o 7x1 nunca existiu para você, tem
certeza que é boato espalhado pelos despeitados que estão fora do Face.
Certamente
também não vai perder a oportunidade de mandar fotos remando no lago de São
Lourenço, viagem classificada como “segunda lua de mel”, onde aparece comendo
feliz uma pamonha junto com a consorte ou então enviar outra malhando na academia para mostrar que também
está preocupado em manter a forma, o que certamente, irá bombar junto aos
“amigos’ (ops, as aspas foi ato falho) e, esta é um clássico no Face, irá
enviar selfies com junto com o neto "a criança mais fofinha do mundo”. A vida dentro
do site é maravilhosa, não existem problemas, tudo é tão divertido que as
pessoas nunca deveriam sair de lá, deviam “morar” nele.
Este
turbilhão de lembranças me vem à mente de forma assustadora, pois como não
estou mais no Face, não tenho mais amigos para compartilhar a
minha vida, serei obrigado a manter privacidade e isto me desespera. Agora a minha única opção para matar as saudades dos tempos de Face
será imprimir minhas fotos para mostrar para o porteiro do prédio e pedir para
escrever um comentário no pé da foto.
E no
dia do meu aniversário quem vai me dar parabéns? Será que irei passar sozinho e
ignorado no dia mais importante da minha vida matutando onde foram parar os
meus 5.285 amigos. Só de pensar nisso começo a tremer.
No
Face eu era popular, todos me curtiam, aqui fora sou um zero a esquerda, ou melhor,
um poste, só cachorro presta atenção em mim e, se bobear, pensando em dar uma
mijadinha no poste.
Por
precaução já me inscrevi num grupo de ajuda denominado FA- Facecóolicos
Anônimos. Na primeira palestra me ensinaram como ter relacionamento social fora
da internet, coisa que não sei mais como é. Ir a festas, encontrar pessoas num
bar, reunião de condomínio, ir à piscina do clube ou, em caso extremo, velório
também vale, foram alguns dos programas sugeridos, mas que são atividades
estranhas para mim acostumado a encontrar rapidamente todos no Face. Como isso
não precisava sair de casa, pegar engarrafamento, pagar flanelinha, gastar grana
para encontrar apenas três amigos, parece que é assim que eles são designados,
o termo deve ter sido copiado do Face. Eu nunca ficava sozinho, se tivesse
insônia podia encontrar alguém às 4 horas da matina. E agora o que faço, telefono
para alguém, é assim que se faz?
Estou
desesperado com a nova vida cujos hábitos são coisas estranhas, oriundas do século
passado. Ajude-me, não me deixe só, como não tenho mais Face, no dia do meu
aniversário mande um telegrama para mim ou, se quiser me curtir, deposite uma
grana na minha conta que também considerarei sinal de apreço.
Nenhum comentário:
Postar um comentário