segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Integração Espiritual Com Fusão Religiosa

Fusão ou confusão religiosa?
Devido aos frequentes confrontos entre os seus seguidores, que algumas vezes acabam em violência, os principais Guias espirituais das religiões que contam com a mesma gênese, judaísmo, islamismo e catolicismo, se reuniram para discutir a questão e buscar uma solução para se eliminar ou reduzir o nível de animosidade. O encontro teve a coordenação de um coach com experiência em mediação de conflitos e reestruturação empresarial. Por ser agnóstico, por isso imparcial aos olhos dos Guias, fui convidado para participar do encontro como secretário geral.

Após dois dias de debates sem que se chegasse a uma solução, cada líder colocava a culpa pelos conflitos nos seguidores das outras religiões, o coach pede a palavra:

- O Islamismo e judaísmo contam com o mesmo patriarca – Abraão-, Jesus era judeu, assim verifica-se que essas religiões têm mais similaridades do que diferenças são caules do mesmo tronco. A proposta para se acabar com as brigas seria promover a fusão das três religiões e se criar uma única. Assim quem fosse católico, seria igualmente muçulmano e judeu. O mesmo aconteceria para aqueles que professam às outras duas religiões.

O ar de espanto tomou conta da sala, mas o coach fingiu não ver e continuou.

-Para evitar brigas não haveria divindade predominante, todas ficariam no mesmo plano espiritual, e o fiel escolheria aquela que mais se identifica, ganhando de bonificação o apoio das divindades das outras duas religiões. O modelo proposto além de ser forte espiritualmente, certamente irá abalar a concorrência.

Não dando chances para os Guias contestarem, seguiu adiante.

-Para evitar ciumeira em relação o nome da nova religião, de modo ninguém achar que a palavra remete, mesmo que inconscientemente, a fé das pessoas para uma das três religiões, deve-se escolher uma palavra neutra. Como os seguidores do judaísmo, catolicismo e islã estão espalhados por todos continentes, o nome da nova religião teria um apelo mais global se utilizar uma palavra da língua inglesa. Assim proponho que ela seja batizada com o nome de..., no segundo seguinte após ter dito a palavra batizada, se tocou que ela remete ao catolicismo e os guias islamita e judeu olhavam feio para ele, balançou a cabeça desconsolado, respirou fundo e resolveu recomeçar.  Proponho que ela se chame The Religion e garanto que em um ano será mais popular que a palavra selfie, que é bastante nova, mas que todos conhecem e praticam, o mesmo deverá acontecer com o nome The Religion. Para isto iremos elaborar um plano de marketing segmentado, com base perfil religioso e hábitos culturais da população dos diversos mercados, o que, naturalmente, evidencia a necessidade de se elaborar uma bíblia customizada. 

Um incômodo silêncio tomou conta da sala, os olhares de espanto e ceticismo partiram simultaneamente dos três líderes espirituais, que pela primeira vez em dois dias concordavam com algo: o coach era maluco, deveria ser sumariamente demitido e internado.

Sentindo que estava na iminência de ser expulso, o coach continuou:

- De acordo com previsões com base em série histórica, em 50 anos a igreja católica irá sumir do mapa, seu espaço será ocupado pela evangélica. Caindo o número de adeptos, o faturamento diminui e o Vaticano terá que vender seus bens para manter as igrejas e, no final, se a debandada não for estancada, o que é pouco provável, terá que vender o próprio Vaticano, que poderá ser comprado pela Evangélica.

-Os muçulmanos gozam de uma posição confortável na Ásia e África, mas a religião não tem boa aceitação no mercado europeu e americano. Para o Islã a fusão representaria um reposicionamento da marca, melhorando a sua imagem num mercado com alto poder aquisitivo. Para os judeus a fusão seria vantajosa porque acabaria ou pelo menos iria reduzir sensivelmente o antissemitismo dos católicos, pois se isto vier acontecer, estariam praticando auto antissemitismo. Se fusão proposta tivesse acontecido há 500 anos, a Inquisição não teria ocorrido, pois todos os católicos, a começar pelo Papa, morreriam na fogueira.

Os três se entreolharam com espanto, mas o ar de incredulidade diminuiu um pouco. O líder católico perguntou como poderia ser feita a fusão se os ritos, tradições, livros sagrados, guias espirituais, tudo é diferente.

O coach informou que tinha elaborado previamente um business and spiritual plan minimalista, contendo metas, cronograma, modelo operacional, previsão de aumento da receita e redução das despesas e critérios para participação dos lucros, visando não só viabilizar a fusão, como também aumentar o número de adeptos da nova religião.  
-Inicialmente seria feito uma condensação e fusão das escrituras sagradas das três religiões. A nova bíblia iria contemplar as melhores passagens do alcorão, do velho e novo testamento, mas só conteria os trechos que apresentam mensagens explícitas e entendíveis, nada daquelas herméticas que dá margem ao líder religioso interpretar de acordo com as suas conveniências ou nível de loucura, causa principal das violências que são cometidas em nome da religião.

- Todo blá blá e fatos repetitivos seriam cortados, continuou, seria reduzido o número de profetas e apóstolos, passariam de doze para três. O evangelho seria apenas o de São Mateus, que, parece, é o mais apreciado. O número de santos seria reduzido para doze, escolhidos através de votação pela internet, hoje são centenas e grande parte dos fieis não sabe qual é o foco milagreiro de cada um. Eles seriam padroeiros das pessoas com base no mês do seu nascimento, igual aos signos. Assim teríamos um santo para quem nasceu em janeiro, outro para as de fevereiro, e assim por diante, eles seriam multifuncionais, a pessoa poderia pedir tudo para o seu santo, como casar, dinheiro, saúde, etc...

-Em relação ao Alcorão verifica-se que ele tem 114 capítulos e 6.600 versículos. Se fosse novela era até pequena, mas para conquistar novos mercados é muito grande, não ajuda muito, assim acredito que se deva cortar uns 50 capítulos e 70% dos versículos, só ficando aqueles que contam com mais apelo emocional. Finalmente, os cinco livros da Torah seria condensado em apenas um.

- Após a edição dos diversos trechos do novo livro sagrado, continuou acelerado, ele seria reescrito numa linguagem mais moderna de forma que todos entendam o que está lendo, semelhante aos textos dos livros de autoajuda o que, devo confessar, é um risco, pois alguns acham que o sucesso e a força das religiões reside no fato de ninguém entender o que está lendo, ficando com temor de contrariar o que não compreende, mas “que é muito forte”, segundo os guias espirituais. 

- Os fiéis da The Religion não precisaram necessariamente se deslocar para os Templos para praticar o culto religioso, poderá fazê-lo em casa, na praia ou no ônibus através do seu smartphone. Criamos um aplicativo gratuito chamado Religion in House, que o fiel poderá baixar nas lojas da The Religion. Através de algoritmo e do sistema matricial desenvolvido, o APP permitirá que se customize o perfil da cerimônia religiosa, selecionado aquela que mais vá ao encontro das suas necessidades terrenas, não perdendo tempo com rituais ou textos que considera desimportante, além do programa permitir que a cerimônia tenha, a critério do usuário, maior pegada muçulmana, católica ou judaica. O fiel também terá a disposição um APP premium pago, que possibilitará que solicite até três milagres e faça bar mitzvah e casamento religioso on line e, com isso, economizará o dinheiro gasto nestas cerimônias. 

- Devido à criação dos Templos virtuais, alguns físicos ficarão ociosos e serão desativados, por isso será necessário se reduzir o quadro de pessoal qualificado, estando previsto a realização de um PDV- Plano de Demissão Voluntáia o que significa que aproximadamente 30% dos guias espirituais serão dispensados, bem como 50% do pessoal da área administrativa e financeira devido à unificação da gestão operacional das três religiões. 

- Na nova religião não haveria padres, rabinos e mufti, e sim CEOs Espirituais constituídos pelos antigos Guias das três religiões, que deverão fazer curso de reciclagem empresarial para se adequarem ao novo cenário espiritual e formato do produto.

Não sei como acabou a estória, pedi para me retirar, estava exausto após secretariar dois dias de intensos e acalorados debates, somado ao impacto, ou abalo não sei ao certo, emocional após ouvir a exótica proposta do coach. Pode ser que a ideia vingue e surja uma nova religião unindo as antigas com o surreal nome de The Religion, tudo é possível, afinal quem diria que o avião do Eduardo iria cair e a Marina entrar no páreo e decolar.



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