quinta-feira, 4 de setembro de 2014

É Duro Viver na Escandinávia

Um escandinavo desesperado com a
elevada qualidade de vida do país
Ler o jornal ou ver o noticiário das TVs e rádios pela manhã e pegar a condução para chegar ao trabalho ou outro local qualquer, é garantia que o cidadão brasileiro terá assuntos palpitantes para conversar o dia inteiro. Na verdade devido ao excesso de informações, será obrigado a priorizar e fazer uma pauta por ordem alfabética do que irá conversar com os amigos e com as pessoas que esbarra nas enormes filas do banco, mercado, INSS, de pedido de emprego ou no aperto dos trens, ônibus e similares.

As notícias ou abobrinhas que ouve todos os dias sobre os políticos e tudo que é público- escolas, saúde, transporte, obras, serviços, rodovias, segurança, parte destas palavras vem seguida do substantivo corrupção ou do sujeito corrupto, ou de ordem privada, como inclinação sexual, aborto, tráfico, assassinatos e fofocas “relevantes”, tem um lado positivo, elas se constituem nas principais responsáveis pelo grande poder de comunicação do brasileiro, o que faz com que seja considerado um dos povos mais felizes do mundo.

Ele começa o dia desopilando o fígado com a descoberta que o galã da novela das nove, que come todas no folhetim, é gay ou sentando o cacete no ‘político do dia” que está nas páginas dos jornais devido à corrupção, dividindo a sua indignação com o passageiro que está ao seu lado, e nunca viu, na barca Rio- Niterói. Quando a embarcação está chegando no Rio a indignação dos dois é verbalizada em forma de gozação, ambos relatando fatos escabrosos ocorridos recentemente, quando saltam na Praça XV já são velhos amigos e marcam para tomar um chope “um dia desses”. Pode parecer surreal, mas a desgraça vivenciada pelo povo é, na falta de coisa melhor,  o principal motivo da sua felicidade , porque falar mal e ironizar depois faz bem para a alma.  

Isto tudo me vem à mente quando penso que deve ser muito difícil e monótono viver num pais desenvolvido e sem problemas como, por exemplo, os escandinavos, tudo lá funciona bem, incluindo creches, escolas e hospitais públicos, o IDH é alto, a mortalidade infantil e homicídios são baixos, os idosos e pessoas com necessidades especiais contam com total amparo do estado, o transporte público chega no horário, às pessoas viajam sem apertos, os veículos contam com refrigeração enfim tudo funciona bem.

E por que tudo isto é chato? Por que imagino que a população, ao contrário do Brasil, não tem o que conversar, a falta de assunto interessante é geral e, consequentemente, a comunicação entre ela deve ser mínima. O escandinavo liga a televisão e o locutor informa que fechou mais um presídio ocioso por falta de presos, que a qualidade do ar e das lagoas está excelente, que aumentou a expectativa de vida e que determinado deputado que estava indo para o Congresso de ônibus, passou mal dentro do veículo e que a ambulância chegou em cinco minutos e levou-o para o hospital público de Dranskig, bairro situado na periferia de Oslo.  

Acredito que o escandinavo pegue o ônibus ou vá para a fila de supermercado, torcendo para alguém espirrar para falar saúde e o outro responde obrigado, possivelmente este será o diálogo mais interessante que conseguirá travar no dia, além do bom dia que dá diariamente para o porteiro. É mentira que o escandinavo torça para que um amigo ou parente morra, mas é verdade que o velório é das poucas oportunidades que contam para se reunir e, principalmente, ter assunto para falar, no caso as qualidades do falecido.

Na falta de um bom assunto que permita que estabeleça um papo, o escandinavo é obrigado a se apropriar da pauta dos assuntos mais interessantes que acontecem nos outros países. Os africanos, por exemplo, entram com a ebola e a violência dos regimes ditatoriais e o Brasil com a qualidade dos seus políticos e dos serviços públicos, uma coisa está associada á outra.

Pode parecer absurdo, mas desconfio que os escandinavos morrem de inveja da alegria da nossa população.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário