Estas são as únicas damas que meus amigos aposentados conseguem encarar |
Prezado Joaquim,
Tenho 85 anos de
idade e me aposentei do trabalho, mas não da vida, tento continuar na ativa.
Depois de ver meus exames, o meu médico disse que a bola seis já foi para a
caçapa e que estou pela bola sete, não entendo nada de sinuca, mas desconfio
que deve ser coisa boa, pois meu número de sorte é sete.
Tomo a liberdade de
mandar através do Blog Reflexões Baratas esta carta para o senhor para dizer que pode contar com o meu apoio para
tirar o país do lodaçal em que se encontra, pois nós, aposentados
irresponsáveis, temos parcela de culpa com a péssima situação econômica vivenciada pela nação, e eu não me sinto bem com isso.
Meus amigos inativos
reclamam de barriga cheia, na verdade isto é uma licença poética, porque o
valor da aposentadoria não tá dando para encher a barriga, pois, como o senhor
sabe, nos últimos 23 anos houve uma perda de 83% na correção das aposentadorias
superior a um salário mínimo. Por outro lado o Sindifisco informa que é de 64,28%
a defasagem da correção da tabela do imposto de renda pessoa
física ocorrida nos últimos vinte anos. Ou seja, o nosso poder de compra caiu e,
em contrapartida, pagamos mais imposto de renda do que no passado.
Mas,
quer saber o que acho? Na minha opinião estamos fazendo pouco, devemos colaborar e se sacrificar mais e parar de reclamar, não existe mais cidadania, os velhinhos só pensam em
comer, fazer exames em jejum para depois tomar café de graça e comprar remédios, êta classe perdulária.
A sua
chefa, Dona Dilma, pediu pra gente consumir mais para esquentar a economia. Eu
bem que gostaria, mas fala pra ela que terá que esperar uns quatro anos, tempo
que necessito para pagar o empréstimo consignado e o cartão de crédito, ambos renegociados,
e o agiota, com ele não teve perdão, pois estou superendividado, fiz estripulias,
passei férias em Lambari, comprei um pacote para Maceió, troquei meu fusca por
um carro zero, um ponto zero, comprei um apartamento em construção aqui perto de
casa, no Engenho de Dentro, dei para minha neta um celular novo cheio de coisas
que não entendo e uma TV enorme para a patroa.
Meus
amigos da praça onde jogo dama não conseguem entender porque o valor da aposentadoria deles é bem inferior a percebida pelos juízes, deputados e, igualmente, porque, quando estavam na
ativa, não receberam as mesmas vantagens dada a eles. Tem um lá que é economista
inativo e deprimido ativo, trabalhou 40 anos se aposentou pelo INSS com 67 anos e ganha R$4.663,00, enquanto isto tem juiz que foi aposentado por corrupção
aos 53 anos leva para casa todo mês mais de R$28 mil. Eu acho isto normal, afinal estamos no país do futuro que não aprende
com o passado, mas é difícil fazê-lo entender isto, cada dia que passa fica mais deprê.
Pacientemente
tento explicar que todas as mordomias e vantagens concedidas
eram legítimas, mas eles custam a entender que o Brasil é a pátria da imoralidade legal, e, por isso, não há do que reclamar, tudo tá dentro dos conformes. Adicionalmente, toda sociedade desenvolvida tem que ter uma elite,
caso dos parlamentares, governantes e juízes do Supremo, Superior e "Inferior" (primeira
instância), burguesia e povo, e povo que se preza tem que ser explorado, se não
for, passa faz upgrade para a outra categoria, só que não pode existir um país ou espaço sem povão, isto só acontece no Country Club, seria um absurdo, então mostro a importância cidadã de cada um deles para
a formação da pátria, e que deveriam ficar muito orgulhosos com isto.
Ademais,
desconhecem que os deputados para legislar de forma serena precisam de tranquilidade
e os altos salários e mordomias que recebem tem esta função redentora, o mesmo
sucede com os juízes que precisam da mesma matéria prima para poder julgar de
forma justa, não deixar que iniquidades, como as concedidas a
eles, sejam estendidas para o povo, se isto acontecer vira um caos, e os
magistrados são contra a perturbação da ordem pública e a concessão de vantagens
para quem não merece ou quando não tem lei que garanta o jabá.
Finalizando,
gostaria, se não for indiscrição, que me saciasse uma curiosidade, o seu nome
Joaquim é português, mas torce pelo Botafogo e não Vasco da Gama, o sobrenome é
de origem judaica, Levy, mas, aparentemente, não é judeu e pratica política
monetária heterodoxa num governo que quer distância disto. Se não for
desrespeitoso, desconfio que o senhor personifica aquele personagem Chacriniano que dizia que não veio para
explicar, e sim para confundir, e, igualmente, acho que bateu um Raul Seixas no
PT do "Seu" Lula, ele hoje não passa da velha metamorfose ambulante que está desdizendo
aquilo tudo que disse antes (o senhor pode escolher quem é o sujeito da frase, o PT, o Lula ou ambos)
Voltando a sua
particular e inusitada situação pessoal: ela lhe confere o risco de se constituir no
sincretismo dos personagens típicos das piadas no Brasil: o português,
o judeu, o economista e a segunda divisão (Botafogo), tudo isto salpicado pelo
ajuste fiscal, que entra na cota do humor negro.
Se encontrar a Dilma, manda um abraço para ela e diz que quando for andar de bicicleta para levar todos os ministros e assessores, acredito que a acefalia pode ajudar a tirar o Brasil da crise, por isso sugiro que todo o ministério faça o Tour de France, que, de quebra, ajuda a matar as saudades das pedaladas.
Saúde e força para o senhor conseguir encarar o Renan, Cunha, PT, empresários, base aliada, oposição, sindicatos, Movimento LGBT, os grêmios estudantis, donos de creches, enfim, todo o país, e saudações para a sua patroa e seus filhos, são os meus votos e
dos aposentados aqui da Praça do Jardim do Méier.
PS- Continue
a trabalhar em prol do Parque do Aterro do Flamengo, o lugar é lindo, mas anda
um pouco maltratado.
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