terça-feira, 16 de junho de 2015

Está com Pressa? Vá de Internet

Retrato do cotidiano dos grandes centros
Os investimentos feitos pelos governos em transporte de massa e ampliação do sistema viário tem se mostrado muito aquém do necessário para melhorar a mobilidade urbana nos grandes centros, que a cada dia que passa, só faz piorar devido a expansão da frota de transporte individual e geradora de problemas coletivos - os carros. Embora hajam obras de ampliação das vias, a sensação é de que o governo não faz nada para melhorar a situação, tempo de deslocamento aumenta e, junto com ele, a emissão de carbono proveniente dos combustíveis queimados pelos veículos.

A velocidade dos veículos nas Linhas Vermelha ou Amarela na hora do engarrafamento é, muitas vezes, 4km/h. Uma pessoa de meia idade que pratica atividade com alguma regularidade corre 10Km/h e um maratonista de ponta, 20Km/h.

Entretanto, paulatinamente vem aumentando a importância de um novo “modal de transporte”, conhecido pelo nome de infovia que propicia que se trafegue num velocidade igual a da Linha Vermelha na hora do rush- quatro, só que a unidade de medida não é Km/h e sim G, velocidade 4G, antecedendo a moderna freeway que possibilitará se trafegar na supersônica velocidade 5G, que deverá estar disponível em dois anos. A construção de infovias não exige desapropriações, não demandam desapropriações, demolições de prédios tombados, não necessita de complexas e demoradas licenças ambientais e urbanísticas, nem atravessa áreas indígenas.

Nesta altura deve estar achando que estou delirando, mas não, o raciocínio é bem simples. As compras feitas pela internet passaram de R$500 milhões em 2001 para R$14,8 bilhões em 2010 e R$35,8 bilhões em 2014. Considerando-se a taxa de crescimento anual verificada no período 2010/2014 -24,71%, em 2024 o comércio eletrônico deverá movimentar R$325 bilhões no país.

Por outro lado o número de pessoas que faz compras pela internet passou de 1,1 milhões em 2001 para 60 milhões em 2014. Entre 2010 e 2014 houve um incremento de 160% no número de consumidores virtuais. Numa hipótese conservadora, estima-se que em 2024 teremos no país 130 milhões de pessoas fazendo regularmente compras pela internet. Hoje a China conta com 461 milhões de internautas comprando on line.

Como na China a onda do comércio eletrônico está mais adiantada que no Brasil, é interessante considerar os impactos verificados no mercado chinês. Vejamos o caso da Unilever, depois de desfrutar quase 30 anos de crescimento estável em seus negócios na China, viu suas vendas no país despencarem em 2014, pois o consumidor chinês estava migrando para às compras on line. A empresa não foi a única a superestimar a importância das lojas físicas, a suíça Nestlé informou recentemente ao The Wall Street Journal que não percebeu a rapidez e a amplitude da mudança no comércio na China. A Colgate-Palmolive e a Beiersdorf  que fabrica os produtos para a Nívea, também já citaram problemas com excesso de estoque devido à redução das vendas físicas.

O êxodo dos consumidores para o comércio virtual tem afetado os negócios de varejistas tradicionais no mundo todo, com o comércio eletrônico mundial superando US$ 1,3 trilhão em 2014. Na China a transição para as compras on-line aconteceu com maior força, em parte por causa da rápida penetração dos smartphones, o que vem também acontecendo no Brasil.

Apenas 2% das compras  feitas em 2014 foram realizadas por pessoas acima de 64 anos, 16% tinham entre 50 e 64 anos e 82% abaixo de 49 anos. No futuro o percentual daqueles com mais de 50 anos que irá fazer compras pela rede digital deverá aumentar substancialmente, pois são pessoas cuja idade se situa hoje entre 35 e 45 anos e altamente conectados com a internet. Desnecessário dizer que os adolescentes serão no futuro consumidores compulsivos das compras on line. 

Caso não existisse internet e muito menos a possibilidade de se adquirir os produtos pela rede digital, 60 milhões de pessoas teriam saído de casas em 2014, muitas diversas vezes, para fazer compras. Nem sempre elas têm um centro comercial próximo que possibilite ir a pé para pesquisar os modelos e preços do produto que deseja adquirir, o que significa que será obrigada a se deslocar. Nesta hipótese, ou utiliza o seu carro ou táxi, ou se utiliza um dos modais de transporte de massa. No primeiro caso teremos mais um veículo circulando e contribuindo para engarrafar ainda mais o congestionado trânsito, e, no segundo, irá aumentar a demanda de pessoas que utilizam os modais coletivos, pressionando o precário espaço disponível nos transportes de massa.

Em paralelo as compras realizadas pela internet, aumenta o número de empresas que adotam o home office pelo menos um dia na semana, estimado em 14%, aumento substancial em relação aos 6% verificado em 2013. Na Holanda, 67% das empresas têm políticas formais de trabalho remoto,  A adoção do home office na empresa Ticket permitiu a ela fechar 24 filiais espalhadas pelo Brasil e economizar 3,5 milhões de reais que eram gastos com aluguel e manutenção de equipamentos.

A Gol Linhas Aéreas vem investindo nesse esquema de trabalho num dos setores mais sensíveis de sua operação: o atendimento ao cliente. Em vez de manter grandes estruturas de call center, a empresa tem contratado funcionários para desempenhar essa função diretamente de casa. Com velocidade 5G e utilização de vídeo conferências, a infovia será cada vez mais utilizada para se realizar reuniões, consultas médicas, terapias psicológicas, etc...

Somando-se os aspectos considerados, não seria despropósito se acreditar que daqui a 30 anos a fluidez do trânsito será bem melhor do que ocorre no presente, em que pese à expansão demográfica e urbana e o crescimento da frota de veículos, devido mais ao aumento da presença da internet no cotidiano das pessoas, do que em decorrência das insuficientes obras de expansão dos meios de transporte de massa.

A internet está deixando de ser apenas meio de acesso as informações, comunicação ou lazer para ser, também, um modal logístico de transporte virtual de massa, em complemento aos trens, metrô e VLT, dando novo sentido ao termo navegar na internet.

E aí, vai de táxi ou internet? 


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