Alda Castilho ignorada pela sociedade |
Alda
tem 27 anos é uma mulher, negra, pobre, moradora da Baixada Fluminense, estudante
de psicologia, acorda todo dia às 4.30 da manhã pega dois ônibus para ir para o
trabalho e, após sair dele, vai para o segundo tempo da batalha, está na
faculdade estudando para ser psicóloga, um dos seus sonhos, o outro é casar com
Thiago que namora desde a adolescência. Ela é o orgulho da mãe Maria Rosalina, que
desde cedo trabalha duro como empregada doméstica para educar suas duas filhas,
e Alda será a primeira da família a se formar num curso superior.
Infelizmente,
a partir do dia 02 de fevereiro todos os verbos utilizados para retratar o
perfil de Alda tem que sair do presente e se conjugar no passado. Neste dia,
era um domingo, bandidos metralharam o seu local de trabalho e uma bala atingiu
Alda que veio a falecer logo depois.
Sua
mãe está inconsolável com a trágica perda da filha, mais uma vítima da
violência que tomou conta do Rio, e também revoltada com a indiferença e falta
de apoio da sociedade para a trágica morte de Alda, que preenche todos os
quesitos que normalmente fazem às organizações sociais e formadores de opinião
condenar atos criminosos como este – mulher, pobre, negra e trabalhadora - mas,
estranhamente, o silencio foi, usando-se um termo recorrente, ensurdecedor.
Ah, esqueci de escrever um pequeno detalhe no começo da nota, talvez fruto da minha inexperiência, sou blogeiro de primeira viagem. Alda era soldada da PM e no dia do crime estava
trabalhando dentro das instalações da UPP localizada no Complexo do Alemão. Alguma conexão entre a sua profissão e a indiferença da sociedade? Cartas para a redação.
A profissão escolhida por Alda a obrigava a encarar a bandidagem para tentar dar um pouco de segurança
para a sociedade, incluindo bandidos engravatados corruptos que atuam na politica disfarçados de cidadãos honestos horrorizados com a violência do Rio.
Amarildo
e Alda eram pretos e pobres e protagonistas da mesma tragédia, ocasionada por aqueles
que detêm o poder ou orbitam em torno dele. O desfecho dos dois foi igual -
morreram assassinados- mas um termina como vítima e reverenciado pelas organizações sociais e a outra, ignorada por elas pois, na sua visão maniqueísta, a jovem simbolizava as forças repressoras da
população pobre.
Termino
com as palavras ditas pela sua mãe em tom de desabafo: ”se eu fosse mãe de
bandido, as ONGs teriam me procurado imediatamente, parece que os bandidos tem
mais valor, mas a minha filha era honesta, que saía todo dia às 4.30h para
trabalhar, estudava e sonhava em ser psicóloga da PM.
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