sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

MULHER, NEGRA, POBRE E IGNORADA

Alda Castilho
  ignorada  pela sociedade
Alda tem 27 anos é uma mulher, negra, pobre, moradora da Baixada Fluminense, estudante de psicologia, acorda todo dia às 4.30 da manhã pega dois ônibus para ir para o trabalho e, após sair dele, vai para o segundo tempo da batalha, está na faculdade estudando para ser psicóloga, um dos seus sonhos, o outro é casar com Thiago que namora desde a adolescência. Ela é o orgulho da mãe Maria Rosalina, que desde cedo trabalha duro como empregada doméstica para educar suas duas filhas, e Alda será a primeira da família a se formar num curso superior.

Infelizmente, a partir do dia 02 de fevereiro todos os verbos utilizados para retratar o perfil de Alda tem que sair do presente e se conjugar no passado. Neste dia, era um domingo, bandidos metralharam o seu local de trabalho e uma bala atingiu Alda que veio a falecer logo depois.

Sua mãe está inconsolável com a trágica perda da filha, mais uma vítima da violência que tomou conta do Rio, e também revoltada com a indiferença e falta de apoio da sociedade para a trágica morte de Alda, que preenche todos os quesitos que normalmente fazem às organizações sociais e formadores de opinião condenar atos criminosos como este – mulher, pobre, negra e trabalhadora - mas, estranhamente, o silencio foi, usando-se um termo recorrente, ensurdecedor.

Ah, esqueci de escrever um pequeno detalhe no começo da nota, talvez fruto da minha inexperiência, sou blogeiro de primeira viagem. Alda era soldada da PM e no dia do crime estava trabalhando dentro das instalações da UPP localizada no Complexo do Alemão. Alguma conexão entre a sua profissão e a indiferença da sociedade? Cartas para a redação.

A profissão escolhida por Alda a obrigava a encarar a bandidagem para tentar dar um pouco de segurança para a sociedade, incluindo bandidos engravatados corruptos que atuam na politica disfarçados de cidadãos honestos horrorizados com a violência do Rio.

Amarildo e Alda eram pretos e pobres e protagonistas da mesma tragédia, ocasionada por aqueles que detêm o poder ou orbitam em torno dele. O desfecho dos dois foi igual - morreram assassinados- mas um termina como vítima e reverenciado pelas organizações sociais e a outra, ignorada por elas pois, na sua visão maniqueísta, a jovem simbolizava as forças repressoras da população pobre.  

Termino com as palavras ditas pela sua mãe em tom de desabafo: ”se eu fosse mãe de bandido, as ONGs teriam me procurado imediatamente, parece que os bandidos tem mais valor, mas a minha filha era honesta, que saía todo dia às 4.30h para trabalhar, estudava e sonhava em ser psicóloga da PM.


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