São correspondentes de guerra. O de baixo chama-se
Tim Hetherington, indicado ao Oscar 2011 pelo filme “Restrepo”,
morreu em 2012 na Líbia, aos 40 anos de idade, na explosão de um tiro de
morteiro. Ele cobriu inúmeros conflitos ao longo dos seis últimos anos, a
maioria no continente em que morreu. Passou a maior parte da década passada na
África Ocidental, documentando levantes políticos e seus efeitos na vida dos
habitantes da Libéria, Serra Leoa, Nigéria, Sudão e outros países vizinhos.
Os que aparecem na foto de cima são brasileiros e alguns estrangeiros que cobrem as batalhas de uma cidade que teoricamente não está em guerra, mas na prática,
sim, e os confrontos travados são tão perigosos quanto as que ocorrem na África e
Oriente Médio. Estamos falando do Rio de Janeiro e a foto é um flagrante de uma
das inúmeras Batalhas do Alemão.
As forças de
segurança do governo estadual, que, eventualmente, conta com o apoio do
exército, combate os traficantes e milícias com armas pesadas, incluindo veículos e helicópteros
blindados e, às vezes tanques de guerra, e eles se defendem e atacam
com armas de guerra com alto poder destruidor, havendo igualmente batalhas
entre milicianos contra traficantes e entre facções diferentes de
traficantes, as batalhas e mortes são diárias, não há trégua. Não seria despropósito comparar esta situação com as batalhas travadas entre sunitas contra xiitas, somadas as que ocorrem entre entre as diversas facções das duas correntes religiosas, e, no meio desta confusão, o exército perdido dando tiro para todo lado.
Tanto o correspondente na Líbia quanto àqueles que cobrem as batalhas do Rio de Janeiro usam colete à
prova de bala, pois ambos os conflitos oferecem perigo de morte. Em que outra
cidade europeia os jornalistas
são obrigados a usar coletes prova de bala para trabalhar em áreas
conflagradas. Em que outra cidade que está entre os cinquenta maiores IDH, os traficantes encaram - e
atacam - as forças policiais e exército com armas pesadas? Em que outra cidade
civilizada a força policial perde em tempo de paz 73 componentes da sua tropa, mortos na guerra contra os bandidos, e isto
até agosto de 2014. Em que outra cidade com razoável nível de civilidade, problemas policiais causam milhares de mortos e feridos entre as forças de segurança, traficantes e milicianos,
além de matar ou ferir dezenas de pessoas inocentes vítimas de balas perdidas?
A notícia abaixo, que saiu no O Dia de 09/8/14, retrata o estágio da guerra travada no Rio de Janeiro:
A notícia abaixo, que saiu no O Dia de 09/8/14, retrata o estágio da guerra travada no Rio de Janeiro:
“O número de policiais militares
mortos em 2014 chegou a 73 nesta terça-feira, de acordo com a PM. Dessas
mortes, 14 ocorreram com policiais militares durante o serviço. Já as outras 59
aconteceram quando os PMs estavam de folga. Entra nestes números o
subtenente Marcelo Dantas dos Santos, de 47 anos, executado com vários tiros de
pistola e fuzil na Fazenda Botafogo, Zona Norte do Rio, e o soldado
Douglas Costa da Silva, encontrado carbonizado dentro de um carro no bairro
Jardim Gláucia, em Belford Roxo, na Baixada, na noite e manhã desta
segunda-feira, respectivamente”.
O final da estória aqui, porque lá
fora continua feroz, é constatar que, devido a rotina, a maior parte da população não se
sensibiliza mais ao ver na TV às guerras nas favelas, que às inúmeras mortes ocorridas
nestas batalhas se desumanizaram, viraram estatísticas, a exceção só acontece quando o palco da batalha acontece em favelas próximas da casa do cidadão, aí a coisa muda de figura,
assumindo aspecto dramático e de indignação. Também se acha natural, nem se percebe mais o absurdo do fato, ver um repórter cobrir operações policiais nas favelas ou em comunidades carentes usando colete à prova de bala, igual ao
que Tim utilizava nas sangrentas batalhas na África e Oriente Médio, indumentária
também usada, por razões obvias, na Síria e Iraque.
Devido a recorrência, a violência esta sendo banalizada no país, o absurdo virou normal e a grande preocupação da sociedade é se vai chover no carnaval ou dar praia no domingo. Isto me deixa mais saudoso do cenário do tempo em que Caetano
cantava o "Havaí é aqui", porque hoje, a cada dia que passa, Bagdá fica cada vez mais
próxima do Rio de Janeiro.
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