sexta-feira, 24 de outubro de 2014

São os judeus, estúpido

James Carville - é a economia, estúpido
Ficou célebre a frase “é a economia, estúpido” dita em 1992 por James Carville estrategista eleitoral de Bill Clinton, atribuindo a economia como fator primordial para Clinton se eleger, o que acabou acontecendo. 

Quando o país está em crise, a população passa por problemas financeiros e o desemprego aumenta, procura-se sempre o culpado, que pode ser a política econômica equivocada adotada pelo país, quase sempre impregnada por demagogia e corrupção, a crise internacional também é uma possibilidade, como também a globalização da economia, nela, a semelhança, do reino animal, só sobrevive os mais fortes e, para teu azar, você mora num país que não se capacitou para encarar os novos tempos. 

Na verdade existem inúmeras possibilidades de respostas, individuais ou combinadas, mas, certamente, quando a crise chegar ao seu estado mais agudo, a sociedade esquece a racionalidade e saca da cartola o tradicional culpado, que varia na designação, mas é sempre o mesmo sujeito: 1º os judeus; 2º banqueiros judeus; 3º sionistas e 4º Israel. Para grande parte da população mundial a causa da crise, ou qualquer outra coisa negativa, incluindo o rebaixamento do seu time para a segunda divisão, quase sempre tem o mesmo alvo, derivada da expressão dita por Carville: são os judeus, estúpido. Às vezes fica a sensação que se eles não existissem, os juros no mundo seriam baixos, melhor, não haveriam banqueiros, guerras, especulação imobiliária e o preço dos produtos seriam sempre reduzidos, independente da lei de oferta e procura, mas com eles por aí, tudo fica difícil.

Olhando o assunto por outro viés, que é o fato de que eles representam apenas 0,17% dos habitantes do planeta, ou, lendo de outra maneira, 99,83% das pessoas não são judias, a maioria é cristã, -27,5%, seguidos dos muçulmanos- 20%, depois tem-se os hindus com 12,5%, que, somados contam com a expressiva maioria de 60%,  e, ainda assim, "meia dúzia de pessoas" consegue “dominar o mundo”. Incrível, não? Um povo numericamente reduzido, com capacidade para determinar os destinos do planeta não deveria ser só discriminado, mas também estudado, pois isto é o máximo da competência, a prova cabal que o rabo pode balançar o cachorro.

No decorrer dos séculos, qualquer coisa que acontecesse de errado no mundo, a população tinha certeza que por trás tinha a mente de judeus conspirando. Eles podem ser considerados uma versão hiper ampliada dos malignos Coringa ou Pinguim, inimigos públicos números 1 e 2 de Ghotam City e do Batman. Só que neste caso o inimigo é real e se constitui no único elo de consenso que une os políticos e intelectuais de esquerda e da direita, bem como o pipoqueiro do cinema, o porteiro do seu prédio, o motorista de taxi e o aposentado irritado na fila do INSS, todos estes últimos sabem - "ouviram falar"-  do plano deles para dominar o mundo. 

Talvez a desconfiança em relação ao perigo judeu seja pertinente, afinal não se pode confiar num povo que embora tenha ínfima participação na população mundial, ganhou 20% de todos os prêmios Nobel. Não dá para acreditar nas intenções de um grupo étnico que produz mentes malignas como Einstein, Freud, Marx - guru dos comunistas, Milton Friedman- guru dos neoliberais, Spielberg, Saul Bellow, Woddy Allen, Dustin Hoffman, Bob Dylan, Paul Newman e, o mais perigoso de todos, Bussunda, que como já morreu não vai mais poder usar a sua perigosa mente ducasseta para prejudicar a população. Fala sério.

Ah, quase me esqueci de citar um bastante conhecido, dos poucos que nenhum cristão questiona, que é Jesus Cristo, pois como todos sabem, ele nasceu e morreu judeu, o cristianismo só foi criado pelos seus discípulos depois da sua morte.  

Ao adotar uma atitude preconceituosa, o cristão está indo, por tabela, contra Jesus Cristo que fez brit milá, bar mitzvá, pessach, jejuou no yom kipur,  tudinho igual ao que foi feito pelos seus seus companheiros de religião, com um detalhe, por razões óbvias nunca celebrou natal e semana santa. Um pensamento me veio à mente: cristão que é cristão deveria, sem abrir mão das suas tradições, fazer a festa de sucot, jejuar no yom kipur e celebrar o pessach judaico, afinal, devido a sua origem religiosa, ele também é um pouco judeu, digamos que é um judeu novo.  


Pensando bem, melhor não, se sem isso os judeus já são culpados de quase tudo, se for evidenciada esta ligação aí passará a acumular também a culpa  da inquisição feita pela igreja contra eles, pois se Cristo era judeu e o Vaticano o gestor espiritual do seu reino, dai para dizer que foram os judeus que perseguiram os judeus será um pulo, serão acusados de terem elaborado o plano que resultou na perseguição e assassinatos cometidos contra eles e também nos saques e mortes resultante das sucessivas Cruzadas realizadas para conquistar a terra santa ou, ainda, terem dizimados os índios do Brasil e de toda América Latina. Isto seria demais para os judeus, mesmo tendo Kafka o papa, no caso “rabino”, do surrealismo nas suas fileiras.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário