segunda-feira, 31 de agosto de 2015

O Traidor de Madureira

Delação ou Traição Premiada?
- Seu filho da puta, não tem vergonha de me trair? Doze anos casados e você está trepando com aquela piranhazinha do 502 que vive com o zagueiro de futebol do América. Para ele, levar bola nas costas deve ser normal, mas para mim não, falou enraivecida.

- Não sei do que você está falando.

- Não sabe é? Então vou refrescar a tua memória. No começo desta semana, mais precisamente na segunda feira, a minha amiga do 804 viu você entrando com a vizinha no Motel Êxtase Tropical na Avenida Edgard Romero, em Madureira. Aí resolvi investigar, fui ao motel e mediante pagamento de pequeno pixuleco dado a um empregado, não vou entregar quem é, mostrei a tua foto e descobri que vocês vão lá há pelo menos quatro meses.

- Pera aí. Calma, eu posso explicar. Eu estou dando consultoria na área tributária para o motel, eles estão enrolados com a Receita Federal, e foram autuados pelas Secretarias de Fazenda estadual e municipal. Por acaso descobri que a vizinha estuda contabilidade, e como o serviço lá é grande, o rolo deles é enorme, perguntei se ela podia me ajudar como estagiária fazendo o trabalho chato, que é auditar os livros dos últimos cinco anos, duas vezes por semana temos que verificar in loco a contabilidade. Eu só esqueci de te falar que tinha contratado ela, se tivesse feito isto estaria tudo tranquilo. Entendeu agora? Explicado?

- Entendi. Entendi que você é um grande filho da puta mentiroso. O funcionário me falou que quando vai lá, rola pelo menos duas garrafas de vinho e os gemidos e berros da piranha tem uma sonoridade tão alta que é ouvida por todos, o que levou os moradores dos prédios vizinhos a fazer um abaixo assinado contra a permanência do motel no local, estão até pensando em entrar na justiça com base na lei de poluição sonora, por isso o motel pensa em proibir entrada de vocês.  Só falta dizer agora que o tamanho da sonegação que ela descobre é tão elevado, que, revoltada, começa a berrar pensando no impacto social que a queda da arrecadação tributária acarreta para à população carente.

- Ok, não há como esconder, você está certa, mas quero observar que existe um atenuante. Neste caso é obvio que a traição é dos dois, mas a dela é muito pior, é uma traição premeditada, sai de casa com vontade de trair e escolhe um alvo, e, desta vez, a vítima fui eu. Pode-se dizer que ela é patologicamente uma serial traitress, termo que significa traidora, sua traição é dolosa, quando há intenção de se cometer o ato, já a minha culposa, não tem este objetivo, acontece por acaso. Eu não saio de casa com esta intenção, por isso deveria atenuar, ou até mesmo relevar o que aconteceu.

- Ah, é? Conta outra seu viado.

- É normal que não acredite no que falei, eu mesmo não daria crédito a isto. Mas vou te dar uma prova definitiva: sempre que encontrava com a vizinha no elevador, saímos no mesmo horário, ela estava com roupas provocantes, decote acentuado, micro saia, perfume matador e eu ficava na minha, nem aí. Uma vez encostou seu lábios carnudos próximo do meu rosto e sussurrou no meu ouvido perguntando para onde ia, falei que estava indo para o meu escritório em Madureira, aí indagou se poderia dar carona, pois, coincidentemente, a Faculdade de Contabilidade que estuda fica lá. Não vi nada demais nisso, pois devemos praticar a política da boa vizinhança, afinal para se chegar lá tem que se pegar duas conduções, de ônibus se gasta  uma hora e meia para se fazer o trajeto. 

-Isto durou três meses, até que um dia, foi em janeiro, fazia um calor escaldante, o ar condicionado do carro tinha pifado, ela sugeriu procurarmos abrigo num lugar mais fresco. Inicialmente pensei que estava falando das sombras das árvores do Parque de Madureira, achei aquilo meio surreal, mas quando estava passando em frente ao motel pediu para parar o carro e sugeriu irmos nos refrescar no ar condicionado e na piscina do motel. De início repeli veementemente a proposta, falei que era um homem casado, que te amava, não admitia isto, que isto ia contra os meus valores éticos e religiosos, mas aí ela começou aplicar, golpes baixos abaixo da linha de cintura, o que me nocauteou. Fiquei grogue, perdi a noção do que estava acontecendo, só fui recobrar a razão quando acordei completamente nu na cama do motel duas horas depois do nocaute.

Não sei bem o que aconteceu neste intervalo, mas tinha noção que a vaca tinha ido pro brejo, por isso, diante do fato consumado, continuei a manter relação até esta semana. Para provar que isto é perfeitamente possível de acontecer, lembro o que ocorreu com o jogador Ronaldo Fenômeno, no caso dele quando recobrou os sentidos notou que estava nu e tinham dois travestis na cama, ele não fazia a mínima ideia como  eles foram parar lá e o que tinha acontecido.  

- Seu puto!

- Pode falar o que quiser não te culpo, mas tecnicamente não te trai, fui envolvido numa teia, sou vítima também e estou indignado com o que ela fez comigo, ou melhor, com a gente. Você tem razão, estava cego, agora vejo que ela é uma piranha.  Com te falei, a minha traição foi culposa, não houve intenção de trair, por isso, deve considerar o que aconteceu como uma triste fatalidade, assim como, como....a eleição do Eduardo Cunha para a presidência da Câmara. Não era para acontecer, mas ocorreu.

- Ainda assim tem culpa no cartório, eu posso aliviar um pouco a tua participação na traição, mas não irei te perdoar de forma irrestrita, isto não.

- Para obter o teu perdão definitivo, não quero te perder, proponho fazer delação premiada.

- Delação premiada?

- Sim, eu conto para você alguns pecadilhos que cometi desde que nos casamos, que você não sabe, em troca obtenho o teu perdão definitivo. Topa?

Cheia de curiosidades sobre os segredos que ele tinha guardado nestes anos, falou que sim.

- Começo pela nossa lua de mel, houve um caso involuntário e rápido com uma camareira boazuda que arrumava o nosso quarto. Estávamos na piscina, eu tinha esquecido o celular no apartamento, subi para pegá-lo e encontrei a moça da arrumação dando uma geral no quarto vestindo um uniforme justo que realçava suas formas, meio versão macho man feminina. Não sei como, nem por que, rolou um sexo maravilhoso, mas, juro, foi só aquela vez. Se arrependimento matasse, tenho certeza que teria morrido na lua de mel.

- Depois, na festa de cinco anos do nosso filho, aconteceu, meio por acaso, uma trepada com a mãe da Claudinha, amiguinha do nosso filho. Mas, juro, foi ela quem provocou, propôs irmos para o terraço para ver o por de sol na Lagoa, eu acreditei nisto, quando chegamos lá em cima me ameaçou e abusou de mim duas vezes, na verdade três se considerarmos a felação.

- Teve ainda a professora da academia, que contratei como personal trainer, um dia estávamos correndo no Parque do Flamengo e paramos para tomar uma água de coco no final do aterro, perto do Aeroporto. Quando menos esperava ela me agarrou e deu o bote e me empurrou para dentro de um que estava ali flutuando na água. Tentei sair, usei toda a minha energia, rezei pedindo a Ele para me ajudar, mas como ela é muito sarada e forte, me imobilizou com uma chave de coxa, eu fiquei indefeso, aí aproveitou para abusar de mim quatro vezes.

- Seis meses depois, em julho de 2010, para comemorar cinco anos de casados fizemos um cruzeiro para Patagônia na companhia da tua prima Maria Rita e o marido dela, que não estavam bem, lembra, aí aconteceu que....

- Cala a boca, não quero ouvir mais nada.

- Então, estou absolvido da traição involuntária com a estudante do nosso prédio? Tenho o teu perdão? Afinal me auto delatei, ninguém faz isto, e o combinado era que iria me perdoar de forma irrestrita se eu confessasse tudo, foi o que fiz.

- Vai pra puta que pariu, amanhã vou dar entrada no pedido de divórcio.

Abaixo a dose de rock do texto: 
Rock Around the Clock  - Bill Haley and His Comets
https://www.youtube.com/watch?v=ZgdufzXvjqw



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