Será que o Brasil Mudou? |
Se Graciliano Ramos ressuscitasse possivelmente escreveria hoje o livro
Vidas Secas de forma diferente e bem mais dramático. O romance original versa
sobre um casal de retirantes miseráveis nordestinos, seus dois filhos e a
cachorra vira lata chamada Baleia expulsos do seu rincão devido à seca
inclemente. A estória se desenrola no decorrer da caminhada em busca de um
destino melhor, tinham muito pouco a perder, pois a vida deles sempre foi muito
sofrida caracterizada pela escassez de água, recursos, comida, cultura e
palavras. A única coisa que abundava na família era a fome e pobreza.
A versão moderna contaria o drama de um casal paulista, seus dois filhos
e a cadela, uma Lulu da Pomerania chamada Scarlet, que moram numa mansão
situada na região dos Jardins no centro do polígono da seca paulistana, que os
moradores chamam de la sécheresse polygone para reduzir a desvalorização dos
imóveis, que, igualmente, foge da seca inclemente que assola São
Paulo, não chove há meses, os reservatórios secaram, a água acabou, mas a
situação é bem mais dramática que a da família nordestina, pois o chefe da
família estava preso devido operações de superfaturamento feitas pela sua
empreiteira com órgão estatais, o que ocasionou diversos processos de corrupção
e formação de quadrilha, sua residência atual Curitiba.
Sua esposa, uma dondoca botoxada, está depressiva devido à perda do patrimônio e do orgulho, o caso saiu em todos os jornais e TVs. Antes do debacle financeiro e patrimonial ela contribuiu a sua maneira para ajudar a acabar com o problema hídrico paulistano. Parou de beber água nativa para economizar o precioso líquido nacional, quando estava no Brasil só bebia água importada da Áustria, passava a maior parte do ano em Paris, ia para lá para ajudar a economizar a água brasileira, usava a francesa, o único aspecto positivo que compensava o sacrifício do exílio hídrico era que o banho com água parisiense era bem mais charmoso.
Sua esposa, uma dondoca botoxada, está depressiva devido à perda do patrimônio e do orgulho, o caso saiu em todos os jornais e TVs. Antes do debacle financeiro e patrimonial ela contribuiu a sua maneira para ajudar a acabar com o problema hídrico paulistano. Parou de beber água nativa para economizar o precioso líquido nacional, quando estava no Brasil só bebia água importada da Áustria, passava a maior parte do ano em Paris, ia para lá para ajudar a economizar a água brasileira, usava a francesa, o único aspecto positivo que compensava o sacrifício do exílio hídrico era que o banho com água parisiense era bem mais charmoso.
Outra medida de guerra tomada foi proibir a criadagem de lavar os cinco
carros importados três vezes por semana, agora seriam só duas vezes, a exceção
da Porshe e a Ferrari do marido. Os banhos de banheiras de hidromassagem
feitos diariamente com sais importados, utilizados para relaxar e rejuvenescer
a pele passou para apenas três vezes por semana, o que deixou o seu rosto
envelhecido, obrigando-a a fazer mais uma aplicação de botox na testa,o que
debitava na sua cota de sacrifício e cidadania, afinal era uma mulher
engajada, trabalhava em projetos voltados para a responsabilidade social, como
o do Dog Garden, uma ONG voltada para tratar cães de raça da região
dos Jardins e adjacências com problemas de identidade ou bipolar, síndrome que
poderia fazê-los atacar seus donos ou ficar prostrado não querendo mais saber
de viver.
Tudo ia bem, mas de uma hora para outra seu mundo deu uma cambalhota, o
Ministério Público ofereceu denúncia contra Armando, seu marido, o juiz
autorizou a quebra do sigilo bancário e telefônico, foram bloqueados bens e as
contas bancárias no Brasil e, também conseguiram identificar aquelas abertas em
paraíso fiscais em nome do marido, no seu e dos filhos. Não tinha dinheiro para
nada, foi obrigada a tirar os filhos da escola americana e matriculá-los numa
escola pública, passou a comprar acém, as amigas a evitavam não era mais
convidada para jogar golfe e participar das reuniões da DogGarden ou da
PauliWoman, outra entidade que fazia parte como voluntária, que era uma
associação de mulheres que dava apoio ao Movimento LGBT, e promovia viagens
técnicas para conhecer as Paradas Gays de Nova York, Paris, Bangcok, Berlim,
Tel Aviv, Flórida, Amsterdam e São Francisco, as do Brasil não, porque o nível
era muito baixo.
Embora o marido das suas amigas, agora ex-amigas, também tivessem o rabo
preso, eles nunca foram pegos pelo Ministério Público ou Polícia Federal, o
único flagra dados foi com as amantes, mas isto era um problema menor,
afinal a maioria também dava expediente fora de casa, então tudo ficava no zero
a zero.
Por isso embora a seca fosse geral, elas tinham dinheiro para
administrar a falta de água, comprando caminhões pipas ou passando longa
temporada no exterior, mas quem não tinha dinheiro nem para pagar a criadagem e
mensalidade das escolas dos filhos tinha que emigrar, se virar sozinha, pois o
imbecil do marido, que sempre contou vantagens e debochava da justiça, deixou
rastros e foi em cana e, se bobear, é capaz de levar toda a família junto, pois
diversas operações heterodoxas foram feitas em seu nome e na dos filhos.
Também o que ela podia esperar de um cara com o nome de Armando, ele é
sempre suspeito, o nome o entrega, ninguém se chama Armando à toa. Hoje se
arrepende de não ter casado com Fortunato, que também dava em cima dela e agora
está podre de rico, é dono do frigorífico Fortuboi, mas na época era meio duro,
a família dele pertencia ao andar debaixo, não tinha cultura, assim resolveu
apostar no candidato de sobrenome reluzente que frequentava o high society
paulistano. Merda.
Mas o cúmulo da humilhação foi ter que ouvir de uma prima que ela sempre
esnobou e morava em Sinop norte de Mato Grosso e casou com um sujeito bronco
que ficou rico com uma madeireira, chamava ele de cafetão de árvore, que
poderia dar guarida para ela e os filhos, tendo oferecido uma casa para morar
que estava vaga localizada na periferia da cidade, mas todos teriam que
trabalhar, pois não poderia sustentar a família, ela poderia ficar na loja como
vendedora e os filhos poderiam escolher entre o almoxarifado ou dirigir
caminhão, tinham uma frota para fazer as entregas. Ouviu tudo morta de ódio e
foi obrigada a engolir o orgulho em seco e dizer que ia estudar a proposta.
Piranha.
O plano que tinha para recomeçar era tentar chegar à terra prometida,
Miami, onde as pessoas são felizes, não falta água e não tem esta gentinha que
é obrigada a aturar no Brasil, durante todos estes anos teve que posar de
politicamente correta, por uns momentos sorriu ao pensar que ficar na merda tem
lá suas vantagens. Mas como não tinha dinheiro para abrir um negócio e poder
ficar legalmente no país, ia tentar entrar como ilegal pela fronteira do
México, tendo pago a um coiote para fazer a travessia, chegando ia ver se
conseguia trabalhar num hotel, pois falava quatro idiomas e botaria os
incompetentes e mimados dos filhos para correr atrás.
Quando pensou no filhos seu humor ficou ainda mais azedo, pois o mais
novo estava deprimido por ter sido obrigado a deixar o namorado para trás, não
parava de chorar, só faltava isto, ter que aturar fossa. A pior coisa que tem é
gay pobre, pensou, o rico não se abala, tem outras diversões, a fila anda
rapidinho. Outra vantagem de ficar pobre é poder falar o que pensa, antes tinha
que posar de mulher rica moderna de cuca aberta, dizia para as amigas que
estava feliz porque o filho estava apaixonado pelo amigo da escola, tinha
encontrado sua alma gêmea, dormiam juntos em casa, foi até entrevistada por um
programa de TV focado em pais de pessoas de gêneros diferenciados. A verdade é
que ficava possessa com a boiolagem do filho, isto a deprimia. Agora pode falar
o que pensa à vontade, pobre é conservador e ela agora pertence a categoria.
Bem, a estória continua e não se sabe como vai acabar, talvez num
restaurante, numa pizza coletiva, no Brasil tudo pode acontecer, o que
inclui o nada, sempre favorito quando os protagonistas são políticos e
empresários.
Mas a água de Paris é péssima viu! Muito alcalina! Estraga o cabelo!
ResponderExcluirLá vem vc com detalhes. Caxambu tb tem água alcalina e as pessoas vão lá para se tratar. A da minha casa é do Paraíba do Sul, argh!
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